Mesmo sendo as vítimas, as mulheres seriam mais machistas que os homens quando o assunto é violência doméstica. Pelo menos é o que aponta a pesquisa intitulada “Tolerância Social à Violência Contra a Mulher”, divulgada esta semana pelo Sistema de Indicadores de Percepção Social(SIPS), do Ipea, na qual a maioria dos entrevistados, 66,5%, foram mulheres de praticamente todas as idades, a partir dos 16 anos. Apesar de apontar que 78% dos 3.810 entrevistados concordaram totalmente com a prisão para maridos que batem em suas esposas, a pesquisa mostra que 82% concordam que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. E ainda, que 63% entendem que os casos de violência dentro de casa deveriam ser discutidos somente entre os membros da família. Outro dado que chama a atenção indica que 58% concordaram, total ou parcialmente, que “se as mulheres soubessem se comporta haveria menos estupros”. E ainda, que 42% das pessoas acreditam que a mulher é culpada pela violência sexual, muitas vezes por causa da roupa que vestem. A promotora de justiça da Vara de Violência Doméstica, Lindinalva Rodrigues, diz que esses dados, infelizmente, retratam a realidade de uma sociedade extremamente machista e preconceituosa, que desconhece como acontecem os abusos e quem são as vítimas. Lindinalva destaca que as mulheres violentadas sexualmente, em sua maioria, vivem em situação de vulnerabilidade. São crianças, portadoras de transtornos mentais e pessoas que estavam sob o domínio desses criminosos. A maneira como expõem o corpo jamais poderia ser tolerada como incentivo a pratica do crime de estupro. Lindinalva observa que mesmo aquelas que se prostituem têm o direito de decidir com quem querem se relacionar sexualmente. Na avaliação dela, o machismo feminino mantém o alto grau de tolerância às mais diversas formas de violação de direitos da mulher e se torna um dos grandes empecilhos na luta pelo fim da violência doméstica. “Mulheres machistas criam filhos machistas e abusadores”, completou. Com mais de 15 anos de atuação nessa área, Lindinalva Rodrigues tornou-se uma referência na luta contra a violência doméstica em Mato Grosso. Ela, em conjunto com outras promotoras, coordena o projeto “La em casa quem manda é o respeito”, que oferece assistência social e psicológica aos homens presos por crimes da Lei Maria da Penha. O objetivo é fazê-los entender que agredir a mulher é crime e assim prevenir a reincidência. A professora Madalena Rodrigues dos Santos, do Núcleo de Estudos sobre a Mulher e Relações de Gênero 2t435w
(Nuepom) da UFMT, avaliou como reais, porém assustadores os índices da pesquisa. “É por isso que os avanços são poucos”, reagiu, fazendo referência às ações de combate à violência contra a mulher.
No entendimento da professora, a mudanças poderiam ocorrer se as mulheres tivessem o ou demonstrassem maior interesse por informações, leituras que podem fazê-las refletir e chegar a uma percepção mais crítica sobre o tema, por exemplo.
“Em muitas delas está impregnada a ideia das diferenças, ou seja, que homem pode isso e aquilo e que as mulheres não podem agir ou comportar-se dessa ou daquela maneira. Há aquelas que acham que se a mulher apanhou é porque fez algo para motivar ou merecer a agressão”, lamentou.